“Vou derramar seu sangue, Formiga vai chorar seu luto.” A ameaça foi feita pelo vereador Lucas Coelho (PSD), de 33 anos, ao ex-noivo, o professor Jhonathan Silva Simões, de 31. Poucos meses depois, em 29 de maio, Jhonathan foi executado a tiros na porta de casa, no Bairro Sagrado Coração de Jesus, em Formiga (MG).
Lucas, que é vereador em Araújos, foi indiciado por homicídio qualificado na última sexta-feira (13), por motivo torpe, com impossibilidade de defesa da vítima e indícios de premeditação. Ele se entregou à polícia em 5 de junho e está preso.
RELACIONAMENTO MARCADO POR CIÚMES, CONTROLE E VIOLÊNCIA
Segundo o primo da vítima, Junio Pablo, Jhonathan foi vítima de uma sequência de abusos psicológicos e físicos durante o relacionamento com Lucas, que durou cerca de um ano e terminou em fevereiro de 2025.
O fim do namoro, no entanto, não interrompeu as perseguições. Lucas continuava monitorando os passos do ex-companheiro, chegando a aparecer em locais que Jhonathan frequentava sem ser convidado. “A gente acredita que ele tenha rastreado o celular do Jhony”, relatou Junio.
Em uma ocasião, no distrito de Malaquias, Jhonathan apareceu com o rosto machucado, após ser agredido. “Ele chegou com o olho roxo. Disse que Lucas o ameaçou, dizendo que a família dele ia chorar a morte dele em Formiga”, contou o primo.
‘DOSSIÊ’ DE PROVAS E BOLETINS IGNORADOS PELA LEI
Assustado, Jhonathan chegou a registrar boletins de ocorrência relatando ameaças e agressões. Ele também elaborou um “dossiê informal” com registros desses episódios. Um dos documentos incluía a ameaça de morte, hoje considerada pela polícia como parte da premeditação do crime.
Jhony chegou a solicitar uma medida protetiva, mas o pedido foi negado, já que na época a legislação brasileira não incluía proteção para casais homoafetivos. Após a atualização da lei, ele não chegou a refazer o pedido.
VEREADOR PERSEGUIA VÍTIMA E TENTAVA REATAR RELAÇÃO
Mesmo após o término, Lucas continuava aparecendo na casa da família de Jhony, em tentativas insistentes de reatar o relacionamento. “Ele chorava na porta, pedia pra minha mãe convencer o Jhony a voltar. Vivia rodeando a casa”, disse Junio.
Segundo ele, Lucas chegou a causar danos no carro de Jhonathan durante um surto de ciúmes, além de invadir festas e locais públicos onde o ex-noivo estivesse. Amigos próximos também relataram sentir medo do vereador. “No dia da morte, ninguém queria falar nada. Estavam com medo”, contou.
Foto: Junio Pablo/Arquivo Pessoal
CRIME PLANEJADO: ALUGUEL DE CARRO E FUGA REGISTRADA POR CÂMERAS
As investigações da Polícia Civil revelaram fortes indícios de premeditação. Lucas alugou um carro preto em Bom Despacho no mesmo dia do assassinato e ficou cerca de 45 minutos à espera da vítima na porta de sua residência.
O crime foi captado por câmeras do sistema de segurança “Olho Vivo”. Jhonathan foi atingido por seis tiros pelas costas. O assassino estava de rosto coberto e fugiu imediatamente após os disparos. O veículo utilizado na ação foi devolvido ao dono um dia antes da apresentação de Lucas à polícia, por meio de seu advogado.
CÂMARA SUSPENDE MANDATO DE VEREADOR INDICIADO
Após o indiciamento, a Câmara Municipal de Araújos suspendeu o mandato e o salário de Lucas Coelho. O Ministério Público deve apresentar denúncia formal por homicídio qualificado nos próximos dias.
Lucas, que se manteve em silêncio durante o interrogatório, segue preso e à disposição da Justiça. Enquanto isso, a família de Jhony pede justiça e lamenta o fim trágico de um jovem professor, descrito como querido e talentoso.
Foto: Junio Pablo/Arquivo Pessoal
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