Companhia apontou argumentos que demonstram potencial impacto econômico sobre suas atividades se fusão for aprovada
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aceitou o pedido da Minerva Foods para atuar como terceira interessada no processo que avalia a fusão entre Marfrig e BRF.
Na prática, a Minerva — concorrente direta da Marfrig no mercado de carne bovina e fornecedora da BRF — passa a ter acesso aos autos do processo. Com isso, a companhia pode apresentar pareceres e dados técnicos, além de formalizar argumentos contrários à operação.
Argumentos da Minerva
No pedido protocolado na quinta-feira, 12, a Minerva afirma que a incorporação deve ser reavaliada, apontando riscos de concentração de mercado, enfraquecimento da concorrência e possível desequilíbrio nas relações comerciais.
Entre os principais pontos levantados, estão:
- Conflito de interesse via Salic: o fundo soberano saudita tem participação relevante tanto na Minerva quanto nas empresas envolvidas na fusão. Segundo a Minerva, isso pode gerar risco de coordenação estratégica e troca de informações sensíveis entre concorrentes;
- Risco na cadeia de fornecimento: atualmente, a Minerva fornece carne bovina in natura para a BRF, que é uma das maiores processadoras de alimentos do país. A fusão pode prejudicar essa relação, uma vez que a Marfrig, concorrente direta, passaria a controlar a BRF;
- Poder de mercado: a união formaria um portfólio com 37 marcas de alimentos, fortalecendo o poder de negociação com supermercados, atacadistas e operadores de foodservice, o que pode restringir o acesso de concorrentes a esses canais;
- Aprovação acelerada: a empresa questiona o rito sumário utilizado na aprovação inicial, que, segundo ela, não seria adequado para uma operação desse porte e impacto no mercado.
A Minerva também relembrou um episódio de 2014, quando o Cade recomendou restrições a uma tentativa da própria empresa de adquirir participação na BRF — em uma operação de impacto bem menor do que a atual fusão.
Procurada, a Minerva informou que não comenta o caso.
Prazo para apresentação de recursos
O Cade concordou que a Minerva apresentou argumentos que demonstram potencial impacto econômico sobre suas atividades. Assim, abriu prazo de 15 dias, a partir de 12 de junho, para que as partes envolvidas e terceiros interessados apresentem eventuais recursos ao Tribunal do órgão.
Se não houver oposição do Tribunal, a fusão da Minerva e BRF, – que prevê a criação da MBRF Global Foods Company S.A, avaliada em R$ 152 bilhões —, poderá ser concluída sem restrições.
Na próxima quarta-feira, 18, a Marfrig realiza assembleia com seus acionistas para deliberar sobre o avanço da operação. A companhia já havia informado que o aval do Cade é uma das condições para seguir com a operação.
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