Mudanças climáticas podem reduzir em 80% áreas para cultivo de erva-mate

A erva-mate, planta nativa da América do Sul, que é consumida em diversas partes do Brasil, além da Argentina, Uruguai e Paraguai, pode cair drasticamente nas próximas décadas devido às mudanças climáticas.

Essas alterações podem atingir as áreas propícias para cultivo da erva, segundo mostra um estudo realizado pelo Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS). A pesquisa também envolveu profissionais do Instituto Federal do Sul de Minas e da Universidade Estadual de Campinas (Unesp).

O Brasil é o maior produtor da erva-mate em todo mundo, sendo mais de 750 mil toneladas colhidas em 2023, segundo o IBGE. Além disso, em maio deste ano, o cultivo da erva no Paraná foi eleito patrimônio agrícola mundial pela ONU.

À época, a ONU afirmou que o modelo é “um raro exemplo de práticas agrícolas que preservam a cobertura florestal e, ao mesmo tempo, apoiam os meios de subsistência e o patrimônio cultural”.

“Além de ter estes componentes, importantes para a indústria, o sistema de cultivo da erva-mate sombreada funciona em uma espécie de consórcio florestal, que produz a erva junto de outras espécies preservadas”, disse o engenheiro florestal Avner Paes Gomes, que faz parte do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná.

Entretanto, a planta depende de condições climáticas específicas para se desenvolver, como temperaturas médias anuais entre 15 °C e 22 °C, além de chuvas anuais acima de 1.200mm.

Diante disso, os efeitos climáticos extremos, como o aquecimento global e irregularidade nos períodos chuvosos, colocam a produção em risco.

Na pesquisa, o grupo responsável analisou o zoneamento climático da ilex-paraguariensis, nome científico da erva-mate, projetando os efeitos nas zonas aptas para cultivo no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Ao todo, 12,2% da área total desses países são propícias para o cultivo, sendo 1,5 milhão de quilômetros quadrados.

No Brasil, o destaque vai para a região sul, onde 96,7% do espaço é apto para o cultivo.

Veja no mapa abaixo:

Imagem mostra mapeamento realizado durante estudo • Fonte: International Journal of Biometeorology

Dentre os resultados, a pesquisa apontou que, no melhor dos cenários, até 2040 a área total de cultivo nos quatro países cairá de 12,2% para 8,8%. Já no pior, apenas 2,2% da área continuará apta para a plantação da erva, até o ano de 2100.

Em alternativa, o estudo também indica que os produtores deverão investir em irrigação em técnicas como o adensamento do plantio, de forma com que ao colocar mais plantas em menos espaço, alivie as altas temperaturas. Por outro lado, essas medidas podem encarecer a produção.

Consumo e tradição

Podendo ser consumida na forma de chá, por infusão, além do chimarrão, com água quente, ou no tereré, com água gelada, a ilex-paraguariensis, nome científico da erva-mate, tem ação diurética, acelerando o metabolismo, além de prevenir diabetes, e combater os índices ruins de colesterol e triglicerídios.

A planta vem dos povos indígenas, em especial dos guaranis, que tinham como tradição o ato de consumir a erva-mate como um ritual de reflexão.

Segundo a Embrapa, além do Paraná, a planta também é nativa dos outros estados do Sul e de parte do Mato Grosso do Sul.

Entretanto, seu consumo se espalhou por todo o país, indo desde o Rio Grande do Sul até as praias do Rio de Janeiro, onde é popular o consumo na praia, em forma de chá gelado, devido às altas temperaturas no verão.

 

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